domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pseudo-liberdade para o bem viver

A violência urbana, real ou do imaginário coletivo, leva-nos a buscar condomínios fechados para viver. A idéia é simples: com uma portaria com 24 horas de vigilância, portão automático, câmaras espalhadas, corremos menos risco pois estamos "protegidos". Talvez seja verdade que os bandidos tendam a escolher um lugar que dê menos na vista, mas os assaltos que têm ocorrido em prédios de áreas nobres fazem-nos repensar a idéia de segurança.

Uma vez instalado no aconchego e na segurança do condomínio, começam as decepções do convívio coletivo. Intolerância, existência de regras absurdas, falta de respeito aos vizinhos e às regras estabelecidas. No condomínio onde moro, por exemplo, existe até controle de uso de cortinas. Imagine o absurdo. Então o morador não pode sequer escolher uma cortina para a sua casa? E quem é que decide o que é de "bom gosto" ou não? Acho uma estupidez querer controlar desta forma a vida dos moradores.

Há itens de segurança, conforto e proteção ao patrimônimo que simplesmente são proibidos. Por exemplo: ar condicionado. As administradoras de prédios de apartamentos alegam que, em muitos casos, não é possível autorizar a instalação desse tipo de aparelho porque a energia consumida, se todos resolvem instalá-lo, causaria quedas constantes no fornecimento de energia. Não seria o caso, então, de repensar a renovação da fiação do prédio todo? Muitos prédios comerciais antigos estão refazendo inteiramente a fiação por causa da alta demanda por energia com a adição de inúmeros aparelhos eletrônicos. O condomínio onde moro é formado por casas isoladas, portanto, cada proprietário deve saber da capacidade de sua instalação elétrica e em nada afeta o coletivo. Por que não liberar simplesmente?

Muitos conflitos de condomínio vão parar no STF. Imaginem os juízes da mais alta instância do país decidindo se uma rede de proteção -- para suas crianças não caírem do n-ésimo andar -- é admissível ou não num prédio, se afeta a estética ou não. Isso revela a falta de tolerância, compreensão, discernimento e coerência dos condôminos. Se uma criança morre por falta de proteção nas janelas/sacadas, os condôminos deveriam responder como co-responsáveis, não? Assim, para evitar mais e mais discussões do gênero, já se decidiu que redes de proteção são permitidas, dada que a cor foi previamente acordada entre condôminos.

E essa briga toda por quê? Ah, o valor do nosso patrimônio. Lógico, para a minha propriedade valer mais, eu não posso colocar uma floreira de gerânios na minha sacada: ou todos fazem o mesmo, ou ninguém faz. Talvez seja vocação para CDHU mesmo. E, claro, não posso colocar calhas para evitar que a água da chuva fique caindo em cima do meu carro fazendo aquele barulho infernal em noites de chuva: muda a estética. É um item de conforto, mas não posso.

Ao optar por segurança de um condomínio, prepare-se, então, para aprisionar também as suas pequenas felicidades de ter uma propriedade, porque ela não é mesmo sua. É do condomínio. Personalizar sua casa? Jamais. Isso é terminantemente proibido.

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