Lendo os comentários e discussão iniciada no blog do mestrando Renato Brodzinski (IME-USP), cujo artigo "Matemática é a disciplina mais odiada do mundo" convida-nos a ponderar sobre os diversos motivos que levariam os alunos a detestarem tanto essa disciplina, fiquei aqui também pensando cá com os meus botões: onde está o centro do problema? Entre os vários motivos apontados no blog, Renato acredita que o vilão seja a "homogeneização" do ensino da matemática que passaria por cima das diferentes formas que cada um de nós pode ter de compreendê-la e praticá-la. Diz ele: "A matemática deve ser trabalhada sem ignorar a individualidade de quem a pratica."
A individualização do ensino, ou, como pretendem alguns, o método de deixar que cada aluno "construa" o seu conhecimento através de suas manifestações pessoais, só funciona bem quando os professores estão bem preparados para essa missão. Mesmo em escolas particulares, o "construtivismo" é muito relativo por causa do conhecimento restrito dos professores. Embora muitos passem por treinamentos específicos, é muito difícil passar a essência de cada disciplina (sobretudo de matemática) para professores que já tiveram uma formação limitada (e limitante). No fundo, as escolas testam um mix de construtivismo e outras correntes pedagógicas (tradicional, Montessori, Waldorf, etc) para ver o que dá mais certo. Triste saber que nossos filhos são cobaias destes testes que, muitas vezes, falham.
A individualização do ensino, ou, como pretendem alguns, o método de deixar que cada aluno "construa" o seu conhecimento através de suas manifestações pessoais, só funciona bem quando os professores estão bem preparados para essa missão. Mesmo em escolas particulares, o "construtivismo" é muito relativo por causa do conhecimento restrito dos professores. Embora muitos passem por treinamentos específicos, é muito difícil passar a essência de cada disciplina (sobretudo de matemática) para professores que já tiveram uma formação limitada (e limitante). No fundo, as escolas testam um mix de construtivismo e outras correntes pedagógicas (tradicional, Montessori, Waldorf, etc) para ver o que dá mais certo. Triste saber que nossos filhos são cobaias destes testes que, muitas vezes, falham.
Nos Estados Unidos há uma corrente muito forte de professores de matemática que são radicalmente contra o construtivismo na matemática, principalmente quando as crianças estão em contato com professores mal preparados. A destruição do ensino da matemática é muito grande no mundo todo. Hoje, vemos gerações de alunos que fogem da matemática e a crise de falta de bons alunos seguindo carreiras de exatas não é uma exclusividade brasileira.
Sobre contextualização de problemas matemáticos (“Word Problems”), eu particularmente gosto, pois acho que situa o aluno em alguma situação prática e dá oportunidade para pensar em várias saídas. Mas o pensamento extremamente pragmático, a pressa e a vontade de ir brincar logo (de se livrar do estudo), impede que o aluno aprecie este tipo de problema. Lógico, ele está com pressa e se o professor der somente a conta montada, ele pode acabar mais rápido. Ler grandes enunciados dá preguiça, dá um nó no cérebro, é chato. E isso é verdade também em história, geografia, português, biologia.....
Acho que existe também a falta de motivação ao introduzir qualquer tópico. Por exemplo: por que ensinar MMC e MDC se o aluno sequer começou a fazer operações com frações? Quando começar a ver soma de frações, ele já terá esquecido MMC e MDC. Até a ficha cair... Meu filho não ama matemática, mas encara sem muitos problemas. No entanto, sinto que ele poderia progredir de forma um pouco mais sólida, fazendo rápidas conexões entre os tópicos, ou desenvolvendo intuições matemáticas e raciocínios mais lógicos. Por exemplo: quanto é 25% de 400? O que os alunos fariam? Normalmente fariam a conta para descobrir e nem pensariam numa figura geométrica, por exemplo, com 4 pedaços somando 400. Aqui em casa somos dois estatísticos (embora o meu marido tenha feito seu doutorado em matemática), e gostamos de mostrar outras facetas dos tópicos que ele está aprendendo. Às vezes dá super certo e ele percebe uma outra lógica, aprecia e progride.
Há ainda o fator salário. Segundo artigo do Prof. Otaviano Helene, José Marcelino de Rezende Pinto e Thiago Alves (Pág.A2 Estadão, 23/08/2010), um professor com ensino superior completo ganha em média de R$ 1000-1600/mês, contra R$ 3000 de outros profissionais com o mesmo nível de educação. Com este baixo nível salarial, é normal que sistema educacional não melhore, uma vez que não se pode esperar que todos sejam abnegados/militantes e se sacrifiquem em nome da boa educação dos outros. Sabemos também que uma das conseqüências da falta de uma política educacional mais eficiente são essas gerações de jovens egressos do ensino médio com baixíssimos conhecimentos da nossa língua e de matemática, e que estão automaticamente fora do ensino superior ou, quando muito, acabam se formando numa das “UniE$quinas” que existem aos montes por aí.
De 18 a 21 de agosto eu participei da FEVEST (Feira do Vestibular) que objetiva divulgar cursos e profissões para estudantes do Ensino Médio. Eu fiquei todos os dias no estande do Conselho Regional de Estatística divulgando o Bacharelado em Estatística como uma promissora opção de carreira aos estudantes. Mas, claro, a grande maioria dos estudantes foge do estande ao perceber que é uma carreira baseada na matemática. O cenário é dos mais negros. Uma aluna do 3º ano do EM perguntou, por exemplo, se “15 para 1h” era a mesma coisa que “12h45” (horário em que faríamos um sorteio); outra sequer sabia o que era “área de exatas”. Dos 70 professores/coordenadores de curso/orientadores vocacionais que receberam nosso Kit para Professor, NENHUM sabia que existia Bacharelado em Estatística! Alguns alunos não conseguiram ler “estatística”, confundindo com “estática” ou “estética”; uma professora leu “artística”! Isso sem contar os inúmeros alunos que comentaram que jamais sonharam em tentar uma USP ou alguma Federal por acharem “difícil demais”.
Haverá luz no fim do túnel?
Apesar do Prof. Helene apontar que não adianta ter esperanças na militância dos poucos que genuinamente acreditam que podem fazer a diferença ao ensinar matemática com prazer, com interesse nos alunos, com criatividade e com seus próprios esforços para buscar reciclagem e atualizações, eu ainda acho que isso é melhor do que nada. Assim como eu, que dedico horas e horas do meus dias para divulgar a estatística -- entre estudantes e mercado de trabalho -- de forma totalmente voluntária e sem ganhar nenhum centavo com isso, acho que haja centenas de outras pessoas que já fazem isso com a matemática. Espero não estar enganada e poder manter a minha esperança na humanidade!!!
Apesar do Prof. Helene apontar que não adianta ter esperanças na militância dos poucos que genuinamente acreditam que podem fazer a diferença ao ensinar matemática com prazer, com interesse nos alunos, com criatividade e com seus próprios esforços para buscar reciclagem e atualizações, eu ainda acho que isso é melhor do que nada. Assim como eu, que dedico horas e horas do meus dias para divulgar a estatística -- entre estudantes e mercado de trabalho -- de forma totalmente voluntária e sem ganhar nenhum centavo com isso, acho que haja centenas de outras pessoas que já fazem isso com a matemática. Espero não estar enganada e poder manter a minha esperança na humanidade!!!
Oi DSFontes,
ResponderExcluirÉ uma honra ter sido citado na sua postagem.
(só um pequeno aviso: o link que você colocou lá no primeiro parágrafo é de outra postagem, não a das reflexões...)
Com certeza essa concepção só funcionaria com professores bem preparados. Mas o próprio professor deve agir dessa maneira para elaborar o seu próprio conhecimento. Não existe professor "formado", todos devemos prosseguir aprendendo por toda a vida (quero dizer, não estou pensando utopicamente que isso irá acontecer, mas essa mensagem tem que ser difundida...).
Obrigado pelo trabalho, comentários e discussões, e boa sorte para nós nesse desafio que é aprender e ensinar as ciências exatas!
Oi, Renato:
ResponderExcluir[acho que agora o link do seu blog está correto] - Sim, todo professor deve permanecer aprendendo sempre. Mas a desculpa é sempre o salário baixo. Concordo que salários baixos são desanimadores, porém, se está tão descontente assim com a docência, talvez possa se tentar outra profissão, ou não? Uma vez escolhida a profissão de professor, poderiam se dedicar a ela com mais vontade (ou com alguma vontade)...
Isso é verdade: independentemente do salário, uma vez escolhida a profissão, ela deve ser exercida da melhor maneira possível. Isso para qualquer profissão, não é mesmo? Mas um salário melhor certamente atrairia melhores profissionais, e aqueles que fazem sem vontade seriam "eliminados" ou forçados a melhorar por causa da concorrência.
ResponderExcluirColoquei, no final da minha postagem, um link para esta sua postagem.
Oi, Renato:
ResponderExcluirObrigada pelos comentários. O assunto é muito complexo e vale a pena trocar muitas idéias. Há grupos de professores discutindo o ensino da matemática no Brasil, participando também de discussões mundiais. Seria muito bom que em algum monento parte das discussões virassem AÇÕES!
Oi, meu nome e Nicolas, acho que o Renato me conhece, eu gosto muito da área da exatas (mesmo tendo um pouco de dificuldade, mas tento sempre me esforçar para superar essa barreira), estou indo para o Ensino Médio agora, realmente o que a senhora falou é verdade, muitos alunos do ensino médio sequer sabem o que é Bacharelado, Técnologo ou Licenciatura, muitos fogem de profissões promissoras, pelo fato de ter muita Matemática ou Física, como por exemplo, estava conversando com uma colega minha em um curso de informatica sobre profissões, ela me falou que pensou em ser arquiteta ou engenheira, mas pelo alto grau de matemática contidas nessas duas profissões, ela prefere partir para algo como Administração ou mesmo Direito. É triste ver isso, comparando os profissionais dos EUA, Índia, Japão ou mesmo China com os do Brasil, e como vi em um texto, se mostrassem para o Brasileiro que ele pode ser bom em outras coisas além do futebol, ele o Brasil não seria assim, pois a cultura da maioria, é a de se focar no futebol, é em apenas isso, por isso que o Brasil não conquistou nenhum prêmio Nobel.
ResponderExcluirPeço perdão se falei algo 'tosco', é apenas minha opinião sobre determinado assunto.
Abraços.
Nicolas_f.
Oi, Nicolas, muito grata pela sua participação.
ResponderExcluirHavia (acho que hoje) um artigo do Gilberto Dimenstein que compara dois mundos: o que mantém rédeas curtas com os estudantes e um outro que atura a indisciplina. Diz que a criatividade fervilha muito mais no mundo onde há flexibilidade e tolerância aos indisciplinados, citando Bill Gates e Zuckerberg. Mas, talvez, o que faça a diferença não é exatamente a rigidez de uma disciplina aplicada ao aluno para que ele se desenvolva e, sim, o ambiente de cultura em que ele está inserido (começando pela família, passando pelo grupo de amigos e escola). Zuckerberg podia ser indisciplinado, mas estava em Harvard!
Assim, parece-me que a aversão pela matemática vai muito além das aulas ruins na escola, desde o prezinho. É provocada também pela falta de compreensão (cultura) do que é matemática e suas grandes relações com a natureza e importância para tudo na vida. É também a preguiça mental que domina grande parte dos jovens, acostumados a ganharem tudo prontinho.
Triste mesmo.